O bicho-da-seda é a larva de uma mariposa. Quando nasce mede cerca de 2,5 mm de comprimento. Durante 42 dias alimenta-se sem parar, de folhas de amoreira e sofre quatro metamorfoses.
Quando atinge o tamanho de 5cm, começa então a tecer um casulo branco e brilhante, composto por um único fio. Com um movimento geométrico infinito, em torno de seu próprio corpo, após três dias de trabalho, estará envolta em um casulo confeccionado por um fio de aproximadamente 1200 metros. Se for deixada em paz... Em 12 dias se transformará numa borboleta.
Com esses fios, há quase três décadas, ando tecendo a minha história. Por um desejo simples, desprovido de maiores intenções, eis aqui um espaço onde me proponho a compartilhar minha trajetória e falar livremente sobre todo tipo de arte, incluindo a arte de viver.
Bem-vindos ao meu mundo, onde nem tudo é sempre colorido, transparente, leve, mas que guarda em si, todas essas possibilidades...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Começar de Novo





Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até que naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava dos idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.
Anônimo

PS: Eu sou catarinense. Eu vivi a enchente de 1983 em Blumenau. Eu tive leptospirose. Hoje, ainda que distante, eu Sinto, Lamento e Choro também.

6 comentários:

Ana Rosa disse...

Lindo texto, muito verdadeiro.
Infelizmente é verdade, passamos a dar valor a aqui que perdemos. bjs

keyniko disse...

olá meu amor!
desde que as águas não pararam de rolar, minhas memórias de seus relatos vieram borbulhando minha mente....conforme relato de shideh: "desta vez as montanhas derreteram" e um mar de lama tomou conta daquele vale. Negro e dantesco!
Trágico, porém dentre tudo isto um nascimento de algo nobre em nós; nobreza esta oriunda de sua história, de seu nascimento em meio a uma catástrofe, por onde em gondolas, um príncipe, chamado de pequeno lhe trouxe a carta que lhe traria redenção ao universo.
Só dando um de farhad, colocaste no papel esta história ou vai deixar ao vento e aos amigos para aumentarem o ponto e propagarem influenciados pelas outras memórias a sua História?
beijo na alma,
key

Ita Andrade disse...

Vou escrever! Você vai publicar????
Beijo na sua alma tambem, meu irmão adorado

Anônimo disse...

O aprendizado das experiências é o mais rico que existe. Embora tenhamos que aprender coisas forçadamente, estas nos fazem crescer e sermos quem somos, o resultado de nossas experiências de vidas somados à nossa personalidade...

Bjo pra vc Ita.

Denise disse...

que texto emocionante.
como a gente é fútil e nem percebe.
beijo, muito prazer
Denise

keyniko disse...

Provoque-me!
Intente com seu manuscrito em mãos e voltamos à esgrima!
Vamos, estou esperando!